"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir.” Ana Jácomo

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junho 16, 2012

O TRUQUE DA RENÚNCIA - Martha Medeiros



Diz a lenda que Jânio Quadros renunciou à presidência para testar seu poder de fogo. Acreditava que o povo não aceitaria perdê-lo e que eclodiriam manifestações por todo o país implorando pela sua permanência. Desse modo, seu cargo seria mantido com apoio popular e o desgaste político que vinha ocorrendo seria esquecido. Erro brutal de cálculo. A renúncia de Jânio não só foi aceita como foi muito bem-vinda. Ninguém o segurou pelos pés pedindo que ficasse. O truque falhou. Essas renúncias armadas pela vaidade acontecem com muita freqüência entre casais. O cara ou a garota resolve dizer que está insatisfeito com o rumo que a relação tomou e avisa que está saltando fora. No fundo, quer apenas testar o amor do outro, ver o outro desesperado com a ausência iminente e argumentando em favor da continuidade do relacionamento. Às vezes dá certo. Às vezes não.
Posso ver a cena:
- Fabiana, acho que todo relacionamento precisa de um mínimo de cuidado, e eu sinto que você está se lixando para o nosso namoro. Talvez seja a hora de acabarmos tudo.
O que ele quer ouvir é:
 - De onde você tirou essa idéia? Eu sou louca por você, não consigo nem imaginar ficar longe de você. O que está errado? Vamos conversar.
 Mas o que ele escuta é uma navalhada no ego:
 - Tudo bem, Ricardo.
 É um jogo perigoso. A pessoa que toma a iniciativa de romper tem suas razões para isso, e o faz, quase sempre, com a intenção de terminar tudo mesmo, inclusive torcendo para que não haja reação dramática do outro lado. Mas a aceitação pacífica do final do romance acaba magoando, pois é a prova de que não faremos tanta falta. Rompimentos não devem ser usados como testes de ibope. Se o outro gosta mesmo de você, vai sofrer inutilmente. E se não gosta, quem vai sofrer é você, pois terá dado a ele o álibi perfeito para sair da situação sem culpa. Renuncie só quando estiver mesmo disposto a abandonar o barco. De mentirinha, é um risco que é melhor não correr.

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