"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir.” Ana Jácomo

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julho 11, 2010

A dor de quem decide pela separação



Tendemos sempre a achar que quem "é deixado" é a grande vítima num
relacionamento. O que ocorre é que quem é deixado está numa situação
completamente passiva e é obrigado a lidar com todo o sentimento de
impotência. Não há o que fazer. Como lutar contra uma certeza do parceiro?

Quem fica é arrebatado por um sentimento de traição mesmo sem ter havido
"traição", propriamente. Quem fica se sente à deriva, abandonado, rejeitado,
desamado... sem chão. O que resta para quem é deixado são as lágrimas. Às
vezes, dependendo do despreparo ou da surpresa com a notícia, tem-se o
impulso de fazer malabarismos para que o outro volte atrás. Mas é inútil.
Vilão e vítima

Comete-se o engano de acreditar que quem saiu da relação "está numa boa".
Este é visto como o vilão da história, aquele que provoca o sofrimento. Mas
não é bem assim que acontece...

Numa relação estável, que começou com a intenção de que fosse o mais
duradoura possível, é claro que ambos caminham na direção de solidificar o
casal. Espera-se que o amor seja para todo o sempre e por mais que se fique
atento à evolução do relacionamento, o amor, o tesão, o interesse por
perpetuar o vínculo pode acabar de um dos lados. Às vezes acontece de ambos
irem perdendo o interesse gradualmente e quase ao mesmo tempo. Mas na
maioria dos casos esse desinteresse é unilateral.

Quem deixou de amar também se frustra. Quem deixou de amar não gostaria de
ter deixado de amar, mas não se trata de uma decisão, isso simplesmente
acontece. Ele vasculha dentro de si por longo tempo para reencontrar o
desejo, a paixão dos primeiros tempos mas nada encontra. Vive um grande
conflito e entra em estado de luto.
Culpa e frustração

Quem deixou de amar também perdeu um amor e passa um longo tempo muitas
vezes se culpando, antevendo a dor de seu parceiro, desejando evitar que ele
se magoe. E muitas vezes, na tentativa de negar que os sentimentos apenas se
esvaíram, na crença de que é preciso haver um motivo mais contundente para a
separação, que não basta que o amor e o desejo tenham se esgotado,
cometem-se equívocos.

Se você se encontra nessa situação, preste atenção para não tornar a
separação desnecessariamente mais dolorida do que naturalmente é, evitando
as seguintes situações:

- Provocar discussões estéreis
- Buscar um relacionamento fora como forma de se punir pela culpa por ter
deixado de amar seu parceiro
- Buscar uma proximidade forçada para "disfarçar" seus reais sentimentos
e intenções
- Desprezar seu parceiro ou tratá-lo com indiferença, imaginando que
assim fará com que ele também deixe de lhe amar, facilitando sua decisão

Essas atitudes apenas vão prolongar e acentuar a inevitável dor da tomada de
decisão.

Ninguém acorda pela manhã com a descoberta de que deseja se separar. Isso é
um processo, vamos nos percebendo aos poucos. Quem passa por essa
experiência se submete a um recolhimento reflexivo aflitivo porque muitas
vezes não consegue aceitar facilmente a realidade de seus sentimentos. E até
que perceba a impossibilidade da continuidade da convivência, vai-se vivendo
o luto da perda de um amor, dos planos, dos projetos em comum.

É um engano acreditar que quem deseja se separar "está numa boa". A
diferença entre que sai e quem fica é que quem sai vive o luto antes da
efetivação da separação.*"*A diferença entre que sai e quem fica é que quem
sai vive o luto antes da efetivação da separação.*"* E acrescente-se aí toda
a coragem necessária para comunicar ao parceiro e administrar com equilíbrio
os desdobramentos dessa decisão.
Pequenos lutos

O ditado que diz que "quando um não quer dois não brigam" aplica-se
perfeitamente nos casos em que o desejo de separar-se é unilateral. Quando
um dos dois lados chega a comunicar essa decisão, isso já foi longamente
maturado - e sofrido. A sensação de alívio experimentada por quem sai e a
aparente simplicidade com que pode lidar com a questão são muitas vezes
vistas como insenbilidade, e isso é outro engano.

Cada qual à sua forma e nos seus tempos, vive a dor da perda, e passado o
primeiro impacto é sempre bom ter consigo que nas relações de afeto não
existe certificado de garantia e muito menos prazo de validade.

Começo, meio e fim. Mesmo as relações que duram "até que a morte nos separe"
sofrem pequenos lutos no meio do caminho.

Recebida Neuzinha.

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